18 de juny del 2010

José Saramago, até mais...

A portuguesa é a unica língua da minha escrita de hoje, porque morreu José Saramago. Eu soube da notícia ha uns minutos e tive necessidade de escrever algumas palavras no meu blogue, e sinto que só podem ser palavras na língua lusa: a sua língua, a minha língua.

Com certeza o vazio começa a expandirse no mundo da cultura, das letras, no mundo dos homens cujo nome vai ficar perto da terra e na memoria universal de todos nós. Eu sentia o vazio enquanto lia a notícia no jornal: os lábios pronunciam uma expressao de terrível surpresa.

Saramago, escritor de memoriais de convento, de ensaios da cegueira, de evangelhos segundo Jesus Cristo, de viágens de elefantes, de poemas impossíveis.

Saramago, o escritor que nao deixa indiferente ninguém, o escritor para quem a escrita era vida. Um romance inacabado. Muitos romances para a posteridade.

Sem dúvida esta é uma grande perda para a literatura. Mas ele fica no mundo das letras a deixar o ensino da luta pela liberdade de expressao.

Saramago e a sua escrita foram libres. E assim foi como ele morreu.


Prouvera que ele morra, que eu quero ser rei e dormir com vossa majestade, já estou farto de ser infante, Farta estou eu de ser rainha e nao posso ser outra coisa, assim como assim, vou rezando para que se salve o meu marido, nao vá ser pior outro que venha, Acha entao vossa majestade que eu seria pior marido que meu irmao, Maus, sao todos os homens, a diferença só está na maneira de o serem (...)
 
[Memorial do convento, 1982]

Oxalá não seja isto febre, pensou. Não seria, seria só uma fadiga infinita, uma vontade de enrolar-se sobre si mesma, os olhos, ah, sobretudo os olhos virados para dentro, mais, mais, mais, até poderem alçançar e observar o interior do próprio cérebro, ali onde a diferença entre o ver e o não ver é invisível à simples vista. Devagar, ainda mais devagar, arrastando o corpo, voltou para trás, para o lugar aonde pertencia, passou ao lado de cegos que pareciam sonâmbulos, sonâmbula ela também para eles, nem tinha de fingir que estava cega. Os cegos enamorados já não estavam de mãos dadas, dormiam deitados de lado, encolhidos para conservarem o calor, ela na concha formada pelo corpo dele, afinal, reparando melhor, tinham-se dado as mãos, o braço dele por cima do corpo dela, os dedos entrelaçados. Lá dentro, na camarata, a cega que não conseguia dormir continuava sentada na cama, à espera de que a fadiga do corpo fosse tal que acabasse por render a resistência obstinada da mente. Todos os outros pareciam dormir, alguns com a cabeça tapada, como se ainda estivessem à procura de uma escuridão impossível. Sobre a mesa-de-cabeceira da rapariga dos óculos escuros, via-se o frasquinho do colírio. Os olhos já estavam curados, mas ela não o sabia.

[Ensaio sobre a cegueira, 1995]


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(!) Peço desculpas pelos erros da escrita inicial e pela falta de vocais nasais (ainda nao encontrei o símbolo no meu computador novo).

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